Coisas de nós todas.

Sinto falta das tardes ao sol. Conversas afiadas. Risadas. Mas isso não volta.
A gente vai seguindo a vida e vê que é preciso ser "grande". A vida vai levando a gente...
Nem sempre grande nem sempre inteiro, mas a gente vive.

Meu peito sente saudade, mas sente baixinho pra não incomodar.

Não me permito pensar naquelas que se foram com raiva [parece que algumas delas não sabem disso].

Amigos, meus caros, são difíceis.
Mas são raros.

E os que querem estar ao meu lado, estão. Os que quiserem, estarão.

Há sempre outros que só resmungam. E sempre resmungarão.

Coisas de nós dois.

Uma ligação de três segundos só pra dizer "te amo".
Risadas altas.
Isso não tem nome, mas é nosso mesmo assim.

Coisas de nós dois.

Não aposte, pois venho pra perder.
Sem desespero, sou a resposta.
Estou aqui, me chamam de redenção.

Coisas de nós dois.

Não ouso me silenciar mais.
Espero ele dizer, por vezes, mas quero dizer todo dia.
Eu, agora, sou constante.
Sim, prazer. Bom sermos apresentados, finalmente.

Coisas de nós dois.

Ele chegou, então, cheguei.
Se ele abrir a porta, sublimo.
Meu nome é vontade e eu só estou quando estais.

Para bom entendedor...

Minha alegria vol-
Nem sei se algo mu-
Ser tua, tem dias, é fo-
Sinto arder-me em ciúme to-
Contrariando-me pouco a pou-
Corroendo um pedaço do meu cor-
Fatiando as migalhas que sobra-
Aquilo que os outros deixa-
Aquilo que sobrou pra te ofere-

Mas ouça, você vai lamentar a per-
Se esse ciúme de mer-
Não me dei-
Hoje, meu peito acende a última foguei-
Com essa chama traiçoei-
Aproveito essa ceguei-
Outro ponho em seu lu-


Foi assim:

Ela decidiu abrir a porta, depois de tanto baterem.
Não ignorar as batidas parecia um sinal e lucidez.
Ele se aproximou e ficou. Ficou. Ficou. Ficou. Nada.
Ela ficou enlouquecida! Preferiu não considerar como teria sido se a porta estivesse, ainda, fechada - pois estaria tudo do mesmo jeito.
Ele se foi, mas - antes do amanhecer - telefonou. Parecia que alguém o tinha convencido da inutilidade daquela visita. Ele falou. Falou. Falou. Falou!
Ela pareceu gostar do que foi dito, mas as razões dele... 
Ninguém sabia dele, mas ela borbulhava o estômago toda vez que pensava como iria ser.
No dia e hora marcados, se encontraram e ele falou, falou, falou, falou, falou...
Ela, então, se fez cansada. Levantou-se, deixando com ele um pouquinho do gosto.
Ele, enfim, pareceu entender a urgência e só se movimentou para acompanhá-la.
Até agora.

Imperativo impróprio.

Toca.
Tudo se faz alto.
Quente ou frio? Toca.
Escuta.
Tua respiração perturba.
Ofega, pois.
Se queres mesmo ver, vê.
E  fecha teus olhos pr'eu sentir tua visão.
Ofega mais.
Agora, respira esse ar.
Usa o paladar. Sabes bem do gosto.
Imagina só, se rende.

Bistrô.

Annalice Laranjeiras entrou num restaurante chic e pediu o prato mais caro do menu. Nem olhou para o garçom, nem pensou duas vezes, nem estava com fome.
Ela recebeu o prato com sutil entusiasmo e não disfarçou. Enfiou o garfo no pedido e o engoliu. Sem mastigar, ela não degustou o suficiente, mas - ainda assim - pode dizer a todos como foi a magnífica experiência de comer no mais luxoso restaurante francês e experimentar o prato mais caro.
Annalice Laranjeiras não fez nada disso.
Ela entrou numa padaria, pediu um pão quentinho e o saboreou como quem faz a primeira refeição do dia.
Que delícia.

Para ler uma vez:

eu quero você.
eu quero você.
eu quero você.
eu quero você.
eu quero você.
eu quero você.
eu quero você.
eu quero você.
eu quero você.
eu quero você.

Para ler dez vezes:

eu não quero você.

Sábado, 23 de outubro de 2010.

Prefiro o acaso que,
por acaso,
despertou sem querer.

Uma vez por vez (Capítulo três).

Carta ao leitor.
Caro - e inacreditável- leitor, declaro encerrado o capítulo das verdades, posto que não me sinto mais inclinada a dizê-las.

Uma vez por vez (Capítulo dois).

Das verdades.
Acredito acumular algumas tantas, mas hoje tenho vontade de gritar certas umas...
(Querido - e paciente- leitor, não deposite muita fé nesse capítulo, pois se eu realmente quisesse dizer algo verdadeiro já teria o dito)
Das não ditas.
Guardo-as mais que todas as outras. Tenho cá algumas... ameaçando saltar boca-a-fora, mas, por hora, estou alerta. Não falarei daquelas que pouparam aos outros o sofrimento. Tenho sede, apenas, das que ainda causam o meu. Veja bem, não entenda assim que sou triste. Eu sou atriz e, sendo como sou, sou o que quero parecer ser e o que sou e o que quero e o que pareço.
Uma:  naquele dia em que deixei você, nem lembro como, só sei... acho que não queria mesmo lhe deixar, mas você me deixou ir tão depressa... Não ouvi mais meu nome, não vi mais o seu. Passei pelas ruas lhe procurando e, acho, você sofria pelos cantos. Não me procurou. Não me procurou. Não me procurou! Como pôde me deixar ir? Eu sei. Nas minhas atribuições, pode incluir EGOÍSTA. Queria ter-te.
Pensando bem, egoísta foi você. Sofreu calado. Sofreu calado! Como pôde? Aceitou tão plenamente a momentânea solidão que parece até imbecil escrever-te. Escrever-te... Ainda lembro do gosto. Se eu quisesse esquecer do gosto...
Pode avisar a quem interessar... você me deixou. Você deixou que eu fosse e essa culpa é sua.
(Querido - e persistente - leitor, não deposite pouca fé nesse capítulo, pois se eu realmente o escrevi devo tê-lo escrito para alguém)

[Incompleto]

Uma vez por vez (Capítulo um).

Dos amores somam quatro. Não sei como isso se deu, mas foram sucessivos e, por isso, agradeço.
A vez primeira fez-se saudade, fez-se vontade, fez-se arrependimento, fez-se, faz... A segunda vez fez-se poeira. Na terceira, fez-se borrão. Na última, fez-se por quê? Não sei. Passo.
Dos amigos... totalizei uns bocados. Lembro do primeiro. Nome no aumentativo. Estava sempre presente, mas nem todos o viam. Minha mãe quase sentou nele uma vez, mas o salvei a tempo. Não lembro se ele voltou. Não lembro mais dele. Lembro dos que lembro. E esqueço dos que me esquecem. E esqueço dos que quero esquecer. Hoje, tenho alguns bons camaradas.
Da(s) cicatriz(es), exponho uma em meu rosto. A única grande o suficiente pr'eu lembrar. Ela se esconde sob o queixo e nem a percebo com frequência. Resultado de uma infância preocupada com os horários dos desenhos animados (fiquei tão animada pra ver o Chaves naquele dia que, então, corri... trágica corrida). Bom, em meu corpo - aparentemente - não vejo outra significativa.
Das composições: vez ou outra me espanto quando lembro de algumas... Basta o vento uivar na janela num dia bonito, ou feio...
Das BOAS composições eu sei. Outras pessoas sabem. Outras ainda irão saber.
Sei de uma vez por vez. Sei de todas as vezes. Das boas vezes, eu sei...

"Podem avisar, pode avisar...

... invente uma doença que me deixe em casa pra sonhar." De YUKA, Marcelo.

Pra quem já amou...

Eu sinto saudade. Não havia outro jeito de lhe dizer isso.
Temo que minhas palavras lhe causem desconforto, mas torço pra que você apenas aceite o que lhe oferto: saudade.

Embolia.

Ontem, desejei que o sangue dele invadisse o meu corpo,
só pra percorrer minhas veias,
só pra residir em mim,
só pra atravessar minhas avenidas cheias,
só por me invadir.

"Catarse"

Nunca imaginei esse dia. Pensei que ele viria como pesadelos, logo estaria acordada e era só lembrar da realidade. Não seria assim.
Isso - seja lá o que eu queira dizer com "isso", seja lá o que "isso" for - contraria a lógica universal.
Se eu pudesse me descrever, sendo cada vez mais egoísta - como devo ser pra você - lhe diria que o meu sorriso foi tão aberto quanto o meu coração. O fel das minhas palavras soou como o aço que revestia meus sentimentos. Diria-lhe que não sei se fui.
Fui mais do que deveria, acho. Fui menos do que pude, sei.
Meu erro foi acreditar ser menos, meu erro foi acreditar ser mais. Meu  erro foi não acreditar, meu erro foi acreditar.
Tanto pensei e repensei no que lhe fiz que nem sei em que pensei.
Via a minha história com a sua comungar...
Hoje, lhe garanto que minhas palavras só cortam a minha garganta, meu sorriso está trancado e meus sentimentos, certamente, ocupam o barraco de zinco que é o meu coração. Nesse barraco, vou deixar escondidas aquelas gargalhadas, aquelas conversas fora de hora, aquelas horas jogadas fora, aquelas vontades... Vou esconder você como tudo que você me escondeu, mas eu vou conseguir.
Sê feliz.

Dá-me asas...

Se  eu tivesse duas asinhas, eu abriria a janela e voaria pra bemmm longe. Veria o céu tão de perto que meus olhos ficariam eternamente com o brilho das estrelas. Sentiria o cheiro da rua como quem aspira por liberdade.
Se eu tivesse duas asinhas, eu deixaria essa chuva me molhar com todas as intensidades que ela pudesse me oferecer. Ouviria o som do vento e cantaria com ele em si maior.
Se eu tivesse duas asinhas, tão longe, mas tããão longe eu estaria.

Boa noite.

É tarde.
A selva de concreto vai se iluminando.
Agora, há mais uma certeza: a noite vai chegar.
Os raios do sol já perderam força... Eles não invadem mais a janela...
A sala foi ficando fria.
Lá longe, vê-se uma lâmpada sendo acesa. Uma mais...
O céu é uma mistura de rosa e azul.
Dá vontade de lembrar das outras tardes...
Dos outros céus coloridos.
Bem devagarzinho, vai anoitecendo...
Não há mais o rosa no céu.
Agora, da janela, é como ver centenas daquelas luzes de natal.
...
Anoiteceu.
E eu fiquei, aqui, esse tempo todo... Só pra ver estrelas.

Redenção.

Os teus olhos vagam e os meus anseiam
por qualquer pouquinho de você.
Não arrisco nenhuma palpite, espero
que os teus olhos encontrem os meus "sem querer".
Tua boca, em silêncio, me convida
a fazer parte do teu paladar.
Não arrisco nenhum palpite, ainda
que os teus olhos encontrem o meu olhar.
Ah, se encontrar...
Eu direi a toda estrela, eu conversarei com o mar...
Juro me render... Ao que finjo na sonhar,
meu bem, me rendo à você.

Chuva reticente.

Quando a chuva cai, colorindo o dia de cinza e a noite de vermelho, a cidade parece adormecer. Tudo clama um travesseiro, um sofá, uma cama... Os poetas se revelam - ou se escondem- em suas folhas amareladas e ansiosas por letrinhas... Os ímpares solicitam companhia. As lembranças correm soltas nas mentes nostálgicas. O frio pede o abraço. Os pedaços são soltos pela casa... Um dia assim, Deus me livre!

Bilhete de loteria # 1

Não foi dessa vez. De tanto insistir, cansei. Escutei todos os discursos por você ensaiados, mas não tenho mais paciência. Quando aquela canção tocar, prometo lembrar de tudo... Na verdade, prometo lembrar do melhor, mas não quero ficar por aqui. As noites ficam cada vez mais escuras e você cada vez mais gago. Entenda, por mais que eu permaneça, você passou. 

Cadência.

É ela.
A vontade de viver-te me conduz.
Ao erro vou contente e me satisfaço com seus olhos vagos, com seus braços curtos.
Sou dela.
Fingir que não ligo não me desconecta de você.
Minhas palavras já tropeçam em qualquer lugar onde teu nome salta.
Lá vem ela...
- de novo-
Só de lembrar-te...

Ação e reação (parte um).

Você não se encontra aqui.
Você não se acha aqui.
Você não reside em mim.
Você despedaça.

Sem remendo.

Ao ouvir tudo aquilo, despedacei.
Como quem parte ao meio... sem chance de remendo.
Querer gritar era inútil.
Querer fugir era sensato, mas logo me encontrariam no meu quarto.
"(...) prezo pela sua sinceridade. Lamento o seu feitio"
Foi a ultima coisa que ousei dizer.
E não ousei mais nada.
Logo estaria presa em minha casca grosseira e nem mesmo ele me tiraria de lá.
Eu queria conseguir ficar presa em mim mesma.
E sufocava pra reprimir a vontade de que ele me prendesse.
Que ele me roubasse.
Mas ele me indagou sobre o futuro e logo estava eu aqui, de novo, no chão.

(Silêncio]

Permita que o seu instinto se exerça.

Fuligem.

Eis que o dia surgiu.
Do meu quarto, eu via o sol invadir a rua.
Senti o calor em minha face transformando aquela palidez matinal num tímido tom rubro.
Deixei que o sol também me invadisse, mas me obriguei a pisar no chão e encarar o MEU dia.
Mais um dia de concreto e fumaça.

Em um dia diferente deste, ficara combinado que eu jamais me deixaria tão indefesa quanto aos meus pensamentos. E assim nasceu o pacto mais incerto que eu já fizera na vida.
Eu, eu mesma, sempre duvidei de mim -  ainda não fizemos nenhum progresso neste aspecto.
Mas estava feito.
Estava certo.

Filas e mais filas de carros congestionavam as vias de mão única.

Eu não esperava lutar contra mim mesma. Não naquele dia. Não depois de ter certeza da minha vontade de não ir a esse campo de batalha.
Não tive escolha.

O sinal fechou.

Meus olhos sempre foram os responsáveis pela minha culpa.
Dessa vez, eles reagiram tardiamente.
Mas outros foram rápidos.
E não tive tempo...

Cá estou, no mesmo lugar, contra mim mesma.

Mais um dia de concreto e fumaça.

Verbalize.

Da gramática:
- Verbo QUERER.
Quem quer, quer algo.
O que quer? Como quer? = informações adicionais.
Transitivo direto.

De Bulhões:
-Verbo QUERER.
Quem quer, quer pontofinal
O que quer? Como quer? = problema do terceiro grau.
Verbo indeciso.

Ai...ai...

Hoje, dois olhinhos se perderam. Perderam-se do habitual e oscilaram.
Eles percorreram meu corpo, despretensiosamente, assim concluí.
Lamento, apenas, aqueles olhinhos não terem encontrado os meus.
Um dia desses, roubo eles pra mim.
E ai de quem hoje os tem.

"Abre teu coração...

... Ou eu arrombo janela." - De Holanda.

Demonstração pública de afeto.

"Que saudade de você, mon amoour!
Eu lembro de você toujours.
Oui, oui, dói aussi.
És em mim, pequeno souvenir."

(20/03/10)

Imperativo.

Olhe pra mim e perceba o quanto eu quero provar que um e um somos nós. Olhe novamente e sinta meu desejo de quebrar o teorema e transformar a igualdade em singular.

Se meus passos continuarem lentos demais, perdoe. Eu insisto em permanecer em teu caminho apenas por me recusar a sair dele. E recusarei tanto quanto me recusas.
Enjoe de palavras melosas assim como eu já enjoei das minhas.
Da conspiração láctea, exija  precisão. Os astros erraram, mais uma vez, o seu destino e eu tenho andado distraidamente cansada. Seja como for, peça pra ser.
Olhe pra mim.
Uma vez, duas, três...
Olhe pra mim.
Vire os olhos e revire-os.
Olhe pra mim.
Eu sei, olhe bem, um e um será sempre um.
Pra cada lado.

Passatempo.

Estamos jogando "sufoque".
Quem sufocar com algo que quer dizer - mas não diz-, PRIMEIRO, vence!
Atenção: o felizardo ganhador tem sua garganta cortada para a verificação dos jurados (todo procedimento está dentro do regulamento e é garantido pelo SQS, sistema de qualidade sufoque, além de não causar nenhum dano ao sortudo, haja vista que ele está morto).
A cerimônia de premiação acontece segundos após a confirmação do júri.
Todos os perdedores estão automaticamente convidados.
A próxima rodada começará em dois minutos. Há resistência dos participantes quanto ao item "cortar a garganta" e tal...

Heim?

Pés desclaços, sol a pino, agonia asfalto é.
Se sentido és perdido essa frase lhe fizer.
Eu já levei choque.
Muita gente já levou choque.
Basta ter sido criança uma vez pra conhecer a sensação. Ou não. Adultos também  levam choque.
Eu sei. Todo mundo sabe.
Nunca gostei de levar choque. Qual a graça?
Eu sabia que não gostava de levar choque nas tomadas e lâmpadas e chuveiros e computadores...
Mas eu não sabia que iria querer levar um.

E foi assim.

Quando eu sentia o arrepio percorrendo meu corpo, fechava os olhos e os apertava...
"Um, dois, três, qua-tro, ciiiiiiiiiiiinco, 678910."
Eu cedia.
"-Vai, pensamento! Vai atrás dele! Revira-te e sossega. Vai..."

Faz muito tempo.

Era tarde e eu olhava a janela.
A rouquidão invadiu meus ouvidos.
Eu fazia careta.
A eletricidade me tomou.
Não lembrava mais como era...
Despedacei.

Enquanto durmo.

Com os olhos fechados...

Meu corpo treme.
O sono não chega.
O vento geme.
O frio me aborda.
Espreito a janela, encosto a porta.
Eu sei que ela vem.
E espero.

Me viro do avesso pra te esconder.

A chuva ameaça.

O tempo não passa.

?
!

A vontade me invade.

Tardiamente, ele volta.
Passo a chave na porta e a noite amanhece.
Nada acontece.

A chuva, enfim, cai.

Amanhã, você não vem.

Aperto meus olhos, vasculho a minha mente.
Aperto o gatilho.
Escolho outro alguém.

Você não sai.

Derrotada, desisto.
Então, me levo embora, enquanto a chuva cai.

A rua chora.

Abro os meus olhos...

Você não sai.