As horas dão passos largos e as manhãs se transformam em tardes que escurecem em noites que adormecem depressa.
Quando teus braços encontram os meus em abraços sinto uma paz tão imensa, uma felicidade tão aguda que meus suspiros são da beleza que o teu carinho emana.
Quando teus beijos encontram meus lábios eu sinto que meu corpo esquece do hoje, do agora e passeia em você.
Mas as horas correm depressa e logo você vai. 
A escuridão já tomou conta da sala e eu só reparei o sereno agora, quando teus braços me envolvem mais e teus beijos são mais demorados.
A despedida é a parte mais difícil do meu dia.
Talvez a certeza do retorno já baste pra acalmar o coração de alguns. Pra mim, só teus braços de novo.
Adormece, noite, depressa. 
Deixa o dia dele chegar de novo.

Acorda, amor.

Havia muita claridade naquele quarto. Os olhos estavam mais pesados que o de costume. 
Ficar ali, horizontal, seria mais simples.
Quando os pés pressionaram o chão, foi preciso mais força pra não cair. Então, pausei.
Fitei as paredes e me perguntei qual a razão do cotidiano se iniciar com tanta dificuldade hoje.
Olhei os papéis ao redor, os lençóis mais bagunçados que o normal, o travesseiro recém afastado dos meus braços...
Ainda hesitando, levantei e fui ao espelho. Lá entendi o que acontecera. 
Meus olhos, a cama, os papéis, o travesseiro...
Peguei no sono em algum momento da madrugada. Exausta do sentimento de indiferença, dormi.
Amanheci a mesma. Menos consciente. Mais exausta.


E se?

Se eu só gostasse?
Amando como antes talvez fosse fácil.
Amando como antes as coisas seriam simples.
Amando como antes teríamos prazo de validade.
Então, não.

Se eu calasse?
Silêncio era suficiente pra conquistar a voz do outro.
Silenciando como antes o telefone tocaria mais.
Silenciando como antes já teríamos nos calado pra sempre.
Então, não.

Se eu não cedesse?
Estando certa como antes eles viriam aos montes, fariam fila
em minha porta e eu ganharia rosas, chocolates e corações.
Estando certa como antes os desejos cessariam nos primeiros meses.
Certa, eu que iria embora.
Então, não.

Nunca houve amor ou o silêncio da sagacidade sequer a razão dos corretos.

É o que basta.

Basta uma gotinha percorrer o meu rosto, sentir aquele gostinho salgado e suspirar pra inspiração invadir. Seria, então, a oportunidade de deixar fluir o que se sente ou o magnífico espetáculo do acaso se confirmando em palavras? De qualquer forma, com qualquer nome isso é o que basta.

Coisas de nós dois: segmento.

Sê constante, amor meu. Ainda que imprevisivelmente constante...
Teus afetos deslocados me deixam zonza e meu jeito não consegue memorizar os caminhos que o teu sentimento percorre.
Em mim, pode se perder, desaguar em águas jamais navegadas ou mapear as áreas descobertas pelos tecidos. Só lhe peço que seja sempre. Sempre assim. Desnorteado ou certeiro.
Segredos, segredos, tenho o meu que é teu: gosto quando sou só tua e por assim ser sou a única, gosto de saber da certeza, mas de me surpreender com teus planos sem planejamento. Gosto de ser tua e disso saber. Saber que é por mim que teu seio proclama dependência e hasteia a bandeira da necessidade. Por mim, sentimento constante e absoluto. Que é teu.
Caro amigo,
 sinto tanto em tê-lo desapontado com meu silêncio, mas, hoje, peço perdão pelo que estou, apenas. Ontem tudo era festa e foi sorriso, foi amor, foi intenso. Nos meus sonhos foi sucesso, foi amor, foi sorriso, foi amor, foi sucesso e foi amor. Hoje cedo, foi saudade. Logo à tarde mais saudade e quando sereno põe saudade! Sinto muito por não ter conseguido congelar meu estado de espírito. Sou assim. Vai saber.

#402

Hoje é o dia 402.  
              As mesmas angústias e mazelas circundam os pensamentos que se dividem em opostos e, como tais, parecem se posicionar para a guerra que travaram. Brigam entre si para encontrarem o vencedor, aquele digno de dominar a minha mente (Queridos, desistam. Minha mente não tem espaço pra vocês. Não apenas pra vocês)...
                Às dezenove horas aproximadamente meu corpo reagiu estranhamente, como de costume, àquele sentimento. Oscilou, vibrou, ecoou.
                Hoje é o dia 402. São quase vinte. Ainda estou aqui. Oscilando, vibrando, deixando o sentimento ecoar. Decisão sábia: expulsá-lo de uma vez de mim, decisão imbecil: trancá-lo no peito e analisá-lo profundamente.
                 Cá estou, escrevendo.


Assim, de mansinho, vou escrevendo nós dois. Vou colorindo nossas lembranças e desejando mais. Vou amargando com os erros, mas sei da doçura que me aguarda.Vou achando as respostas que sempre busquei e, embora elas nem sempre sejam o que esperei, eu sei que são de verdade. Sei que é nos teus passos que meu caminho se faz. Somos nós quem figuramos nossa estrada. Nela, meu amor, tenho paz.



Essa coisa de esperar o tempo certo de fazer a coisa certa tá completamente errada.


Ah, se  o brilho da tarde durasse pra sempre do jeitinho lembro agora.
Teus olhos, meus olhos.
 Tua boca, minha boca.
 Minhas mão nas tuas...
O entrelace dos dedos figurando os cruzamentos dos nossos caminhos.
 A vida assim: você e eu numa tarde interminável.