Para bom entendedor...

Minha alegria vol-
Nem sei se algo mu-
Ser tua, tem dias, é fo-
Sinto arder-me em ciúme to-
Contrariando-me pouco a pou-
Corroendo um pedaço do meu cor-
Fatiando as migalhas que sobra-
Aquilo que os outros deixa-
Aquilo que sobrou pra te ofere-

Mas ouça, você vai lamentar a per-
Se esse ciúme de mer-
Não me dei-
Hoje, meu peito acende a última foguei-
Com essa chama traiçoei-
Aproveito essa ceguei-
Outro ponho em seu lu-


Foi assim:

Ela decidiu abrir a porta, depois de tanto baterem.
Não ignorar as batidas parecia um sinal e lucidez.
Ele se aproximou e ficou. Ficou. Ficou. Ficou. Nada.
Ela ficou enlouquecida! Preferiu não considerar como teria sido se a porta estivesse, ainda, fechada - pois estaria tudo do mesmo jeito.
Ele se foi, mas - antes do amanhecer - telefonou. Parecia que alguém o tinha convencido da inutilidade daquela visita. Ele falou. Falou. Falou. Falou!
Ela pareceu gostar do que foi dito, mas as razões dele... 
Ninguém sabia dele, mas ela borbulhava o estômago toda vez que pensava como iria ser.
No dia e hora marcados, se encontraram e ele falou, falou, falou, falou, falou...
Ela, então, se fez cansada. Levantou-se, deixando com ele um pouquinho do gosto.
Ele, enfim, pareceu entender a urgência e só se movimentou para acompanhá-la.
Até agora.

Imperativo impróprio.

Toca.
Tudo se faz alto.
Quente ou frio? Toca.
Escuta.
Tua respiração perturba.
Ofega, pois.
Se queres mesmo ver, vê.
E  fecha teus olhos pr'eu sentir tua visão.
Ofega mais.
Agora, respira esse ar.
Usa o paladar. Sabes bem do gosto.
Imagina só, se rende.

Bistrô.

Annalice Laranjeiras entrou num restaurante chic e pediu o prato mais caro do menu. Nem olhou para o garçom, nem pensou duas vezes, nem estava com fome.
Ela recebeu o prato com sutil entusiasmo e não disfarçou. Enfiou o garfo no pedido e o engoliu. Sem mastigar, ela não degustou o suficiente, mas - ainda assim - pode dizer a todos como foi a magnífica experiência de comer no mais luxoso restaurante francês e experimentar o prato mais caro.
Annalice Laranjeiras não fez nada disso.
Ela entrou numa padaria, pediu um pão quentinho e o saboreou como quem faz a primeira refeição do dia.
Que delícia.

Para ler uma vez:

eu quero você.
eu quero você.
eu quero você.
eu quero você.
eu quero você.
eu quero você.
eu quero você.
eu quero você.
eu quero você.
eu quero você.

Para ler dez vezes:

eu não quero você.